Por Lorival Santos

O FUTSAL é um jogo que possui como diretriz a constante necessidade em buscar a fabricação de espaços, e  com os sucessivos confrontos/enfrentamentos e as cotidianas transições, sejam elas ofensivas ou defensivas, a execução das tomadas de decisões/ações por parte dos jogadores tem como por necessidade  serem executadas de maneira muito rápida, é através desta necessidade que as tomadas de decisões/ações sempre deverão levar em consideração ao que os oponentes possam nos ofertar, onde muitas vezes esta equação (oferta/tomada de decisões) será determinante no êxito ou fracasso na partida; são também através dos percentuais (%) de acertos ou erros destas ações que podemos mensurar a performance/qualidade de jogo da equipe, a capacidade de quebrar a pressão dos oponentes será tarefa integrante no transcorrer dos quarenta minutos deste jogo, assim como, buscar uma melhora contínua da equipe e de seus jogadores.

Constatamos estas observações através das análises elaboradas dentre os dez melhores jogos das principais seleções do mundial de 2021 onde a seleção de Portugal bate a seleção da Argentina e conquista de forma inédita e merecida o título da competição.

Através da necessidade em resolver a equação (oferta/tomada de decisões) seguida de ações executadas de maneira muito rápida que, dentro do universo de  800 metros quadrados onde ‘‘a bola é utilizada como mecanismo regulador das ações dos jogadores’’, mencionada por Rene Drezner em seu artigo (Posse de bola e a dinâmica de jogo); onde esta inerente fabricação de espaços possui como fator predominantemente obrigatório no processo ensino/aprendizagem (formação do jogador de futsal) a percepção/entendimento do jogo, este quesito também estará presente no ensino dos princípios defensivos condicionados com a ausência da posse de bola, buscando assim o equilíbrio das ações ofensivas e defensivas, pois, a dinâmica organizacional do futsal requer capacidade de sustentar o jogo dentro do que os oponentes possam nos oferecer.

Faz parte do cenário da dinâmica organizacional do futsal condicionada à percepção/entendimento do jogo que “ninguém tem necessidade daquilo que desconhece” como Vitor Frade cita esta frase em suas palestras; assim, os anseios das vitórias transcendem este universo, no como vamos jogar o jogo é importante perceber e otimizar as ações de ‘‘diminuir o tempo gasto de quando se obtém a posse da bola e ataca ou em situação inversa de quando se perde a posse da bola e defende’’ (transições) como cita Jesualdo Ferreira; esta percepção/otimização proporcionará uma estabilidade no jogo, portanto, haver uma conexão entre as ações ofensivas e defensivas caracteriza sim um padrão de jogo consistente, portanto, podemos impor o jogo sobre os oponentes; sito mais uma vez, a capacidade de uma equipe em sustentar seu jogo através de seus julgamentos e decisões dentre as adversidades e situações inesperadas que acontecerão no decorrer da partida propicia a equipe um equilíbrio, onde a funcionalidade em resolver problemas de maneira eficiente prevalece e a harmonia dentre estas inúmeras transições oriundas deste jogo inibi e/ou neutraliza o caos, este (o caos) é o desejo incondicional dos oponentes, onde esta capacidade cognitiva em provocar o caos aos oponentes durante o jogo (“atitudes estratégico-tática”) é citada como elemento de base deste comportamento por Filgueira e Greco (2008), por conseguinte, no jogo individual, usar a habilidade se utilizando do drible diante dos confrontos (1vs1) é com certeza um dos diferenciais deste jogo.

Como vamos jogar o jogo

“Não decorre os passos, aprenda o caminho”.

Klaus Vianna

Dentre as várias formações/plataformas a escolher para a otimização das tomadas de decisões/ações por parte dos jogadores, sejam estas ações utilizando a formação/plataforma (1-3-1) ou (1-4-0) atraindo os oponentes para a sua quadra a fim de gerar mais espaços nas costas dos defensores, ou mesmo furar o bloqueio defensivo dos oponentes quando estes estiverem em linha baixa, as (manobras/movimentações) ou (trocas/permutas) como queiram, estarão  relacionada ao nível técnico das ações dos jogadores, este nível técnico será parte integrante do processo, perceba: segundo Filin (1996) “as habilidades técnicas tem como diretriz melhorar o resultado, permitindo uma ação mais econômica e efetiva dos movimentos”, ora, mas se o futsal é caracterizado pela constante fabricação de espaços e as cotidianas transições, onde entra a tática; segundo Matta e Grego (1996) “as habilidades técnicas e táticas juntas servem para dar soluções ás atividades motoras específicas do jogo’’, assim, se unirmos (a técnica + a tática + o entendimento do jogo) como agente condutor das ações por parte dos jogadores construiremos um padrão de jogo consistente, por conseguinte, poderemos usar uma expressão, nossa, esta equipe corre a metade, movimenta se o dobro e pensa o triplo, portanto, sabendo que os componentes necessários para se viabilizar uma dinâmica organizacional ofensiva adequada é precedido de uma sequencia de ações como: domínio ofensivo + passe de ruptura (entre-linhas) ou um passe lateral buscando o companheiro melhor posicionado na sua quadra, se optarmos por servir o companheiro melhor posicionado na sua quadra através de um passe lateral, seguirá uma infiltração ou aproximação, onde a progressão sempre que possível (primeiro princípio ofensivo do jogo) deverá ser utilizada antes do passe a ser executado a fim de dificultar as ações defensivas dos oponentes, nota-se que este princípio ofensivo (usar a progressão seguida de passe a fim de dificultar as ações defensivas do oponente) era um dos inúmeros predicados das ações ofensivas utilizadas pelo jogador de futsal Falcão, um dos   maiores ícones do futsal mundial, portanto, esta sequencia de ações ofensivas ficou também evidenciada através da observância do padrão de jogo da equipe de futsal do Club Atlético Boca Juniors da Argentina, o padrão ofensivo desta equipe do futsal argentino além de contemplar esta sequencia, também prioriza a infiltração, onde, um jogador que está posicionado em um dos corredores laterais se infiltra para o corredor lateral oposto gerando uma ocupação de forma bem ampla lateralmente, (jogo de amplitude) e, com o propósito de abrir a quadra para que o portador da bola possa reiniciar as constantes fabricações de espaços e/ou as incessantes tentativas de se quebrar a pressão dos oponentes; o que acontece neste espaço restringido envolvendo tensão e satisfação quando se o obtém o êxito ou não, o equilíbrio emocional deverá entrar em cena para sustentar a junção dos três pilares do jogo, (a técnica + a tática + o entendimento do jogo), estes três pilares também aparece conceituado por Grego (1997) na aprendizagem tática do jogo, assim, no jogo de futsal dois minutos é uma eternidade, tudo pode acontecer na busca por uma superioridade no placar e com as incessantes tentativas de se quebrar a pressão dos oponentes diante das ações ofensivas se fabricará espaços para a construção de jogo.

Assim, a necessidade de se prolongar a possibilidade de se manter a alta intensidade no jogo nos dois períodos de vinte minutos do jogo, onde cada jogador é utilizado em média de quatro a seis minutos quebrando sua continuidade em quadra, padrão recorrente utilizado por diversas seleções de alto nível no mundial de 2021, esta lógica de se prolongar a possibilidade de se manter a intensidade no jogo e também prejudicar o contexto da leitura do jogo por parte dos oponentes e seu treinador, onde que, o repertório das ações serão maiores e alterados, por conseguinte, esta busca por ‘‘tornar o jogo mais imprevisível diante dos oponentes e os oponentes menos imprevisível’’ está conceituado em Leitão (2009); cabe também, nos remeter as demandas fisiólogicas, o desgaste físico gera interferências nas tomadas de decisões/ações por parte dos jogadores, onde que nestas ações/movimentos se permite a participação dos elementos envolvidos, a percepção, reação, ritmo e outros estarão presentes.

Segundo estudos (Medline, Lilacs,DOAJ e Scielo), publicados entre 1995 e 2012  sobre a demanda fisiológica no futsal, a distância percorrida por minuto, por cada jogador, pois representa, de forma mais precisa, a intensidade do jogo, a qual pode “variar entre 105 metros/minuto (m/mim) e 160,2 m/mim’’, assim, a potência aeróbia pode diferenciar os desempenhos dos jogadores, mesmo porquê, como relata Barbero ‘‘a intensidade do primeiro período é de 118m/min enquanto a do segundo período é de 111m/mim’’, este relata também que “a capacidade de trabalho será reduzida no segundo periodo do jogo devido á fadiga’’, sendo assim, haverá a ‘‘queda na concentração de lactato do primeiro para o segundo período’’ como relata Tessitore, portanto, para suportar a demanda fisiológica durante as partidas, onde terá que haver um condicionamento físico aeróbio e anaeróbio alático e lático,  o desgaste físico e estresse psicológico estará intrínseco durante o transcorrer dos jogos e na temporada, mesmo porquê, como relata Rodrigues ‘‘o VO2 máximo é de  79,2% (obtidos por meio da correlação desses valores com a frequencia cardíaca)’’, portanto, a versatilidade nas substituições dos jogadores por parte do Treinador para suprir as exigências das demandas fisiologicas será parte integrante da necessidade de se prolongar a possibilidade de se manter a alta intensidade no jogo nos dois períodos de vinte minutos do jogo, por conseguinte, utilizada também como estratégia de jogo.

Formações / Plataformas

Como falamos anteriormente, dentre as várias formações/plataformas a escolher para a otimização das tomadas de decisões/ações por parte dos jogadores, a formação/plataforma (1-3-1) tem como característica oportunizar o jogo de amplitude como também o jogo de profundidade, assim, nota-se que o jogo de profundidade da Seleção de Portugal utilizado de forma a otimizar as caracteristicas de jogo do jogador Zicky se desenvolveu de forma positiva, este passe de ruptura de linhas (entre-linhas) a fim de buscar o jogador posicionado na quadra adversária, além de ultrapassar os oponentes é uma das vias mais rápidas de acesso ao gol, observou-se também que o jogo de profundidade de forma otimizada foi desenvolvido pela seleção do Brasil,  ora, com um jogador em quadra de tremenda capacidade de definição como o Ferrão, isto se torna mais eficaz ainda; já a utilização do jogo de amplitude mencionamos anteriormente quando da observância do padrão de jogo da equipe de futsal do Club Atlético Boca Juniors da Argentina.

Se a diretriz das ações ofensivas do futsal é a constante fabricação de espaços a fim de dificultar o balanço defensivo dos oponentes, será tarefa integrante no transcorrer dos quarenta minutos que quando utilizarmos a formação/plataforma (1-3-1), além de oportunizar o que mencionamos anteriormente esta formação/plataforma contempla por uma variação de formações/plataformas: da (1-3-1) para a (1-4-0), por conseguinte, atraindo os oponentes para a nossa quadra a fim de fabricar/gerar mais espaços nas costas dos nossos oponentes/defensores, também, cabe a utilização de passes de um corredor lateral da quadra para o corretor lateral oposto, por sinal, muito eficiente por dificultar o balanço defensivo dos oponentes, onde, as ações das (manobras/movimentações) ou (trocas/permutas) serão com certeza executadas com velocidade e intensidade, assim, nada mais eficiente que contemplar estas variações, variando o tipo de jogo e a formação/plataforma a fim de dificultar a capacidade defensiva dos oponentes, como a necessidade de sempre buscar a eficácia faz parte da operacionalização deste jogo, alinhando a dinâmica ofensiva (alternância das formações/plataformas + domínios de bola de maneira ofensiva) capacitará ainda mais a equipe, por conseguinte, otimizará as ações ofensivas da equipe nas tentativas de se quebrar a pressão dos oponentes.

Já na formação/plataforma (5-0), onde o goleiro atua também com os pés na quadra do adversário ou não dependendo do posicionamento dos oponentes, como também se utiliza o (goleiro linha), assim, as ações defensivas dos oponentes se darão com uma estrutura defensiva no formato de quadrado ou losango, portanto, além de utilizarmos os fundos dos dois corredores laterais da quadra, se faz necessário ter a percepção de se (contemplar/utilizar/aproveitar) os espaços no centro do quadrado e/ou losango da estrutura defensiva que está sendo executada, utilizando este espaço central, além de provocar o caos para desestabilizar as ações defensivas dos oponentes/equipe adversária, ainda é o local mais adequado para se executar os arremates, mas, devido o posicionamento ofensivo que está sendo utilizado deveremos/teremos que ser letais, esta necessidade em ser letal ficou muito evidenciada na observancia do jogo entre a seleção de Portugal vs a seleção do Cazaquistão no mundial em 30 de setembro de 2021, onde que, por volta do minuto oito da primeira etapa a seleção do Cazaquistão de forma otimizada em suas ações ofensivas, aproveitava a capacidade/habilidade de seu goleiro Léo Higuita e se contemplava da formação/plataforma (5-0), a seleção de Portugal por sua vez em suas ações defensivas, se posicionava em linha baixa se utilizando da formação em (losango ou quadrado); por conseguinte, não se pode esquecer que o futsal é um jogo de cotidianas transições, assim , ser eficiente neste momento não bastará, deveremos/teremos que ser eficazes, pois, o momento posterior as nossas ações ofensivas se não tivermos esta capacidade, com certeza haverá uma transição dos oponentes e a recomposição espacial perante os vários metros quadrados a serem preenchidos demandará muito tempo, por conseguinte, dificultará as ações defensivas em demasia, no futsal esta lógica está intrínseca, é ela que por muitas vezes determina o equilibrio destas ações ofensivas e defensivas.

Lorival Santos – Técnico, campeão Iraquiano de Futebol 2013/14 “Iraq Premier League” (Série A) / Oriundo do Futsal